5 de ago. de 2011

Perfil da leitura no Brasil beneficia o Estado

Editoras encontram cenário favorável graças ao aumento da renda e ao maior acesso das pessoas às universidades



A medição do consumo de livros e publicações no País, que começou nesse ano a ser realizada pelo Ibope, revela que serão gastos pelos brasileiros R$ 7,18 bilhões em 2011 nesse tipo de produto. Desse total, 57,9% serão  movimentados na região Sudeste e 15,28% no Sul. Para os editores gaúchos, no entanto, o fato de o Rio Grande do Sul não estar no topo da lista é apenas um detalhe – ainda que o consumo chegue, conforme a Câmara Rio-grandense do Livro, a cinco livros per capita ao ano, superior à média nacional de 1,3. Isso porque há muito tempo o mercado editorial do Estado entrega literatura a todo o Brasil.
O aumento da renda e o acesso às universidades são fatores que têm favorecido a venda de todo tipo de publicação, de ficcionais a acadêmicas, todas elas encontradas nas editoras sul-rio-grandenses. Empresas já consolidadas e as criadas há pouco tempo são igualmente contempladas. “Nunca trabalhamos para o mercado gaúcho e talvez esse seja o nosso segredo há 36 anos”, avalia o editor da L&PM, Ivan Pinheiro Machado. O Estado representa menos de 10% de suas vendas – enquanto São Paulo responde por 50% -, o que faria, conforme ele, a editora ser 12 vezes menor caso se concentrasse somente nessa região.
A coleção de bolso L&PM Pocket foi a responsável por mostrar a empresa ao País, que atualmente é a única editora que abrange todo o território nacional. “Mostramos ao Brasil que é possível um livro da melhor qualidade, do aspecto editorial e industrial, que custa 40% de um livro convencional”, comenta. Ele comemora o fim do preconceito com os livros de bolso ao ver as pequenas publicações da L&PM sendo vendidas em locais como as bancas de revista da avenida Paulista, coração de São Paulo.
A Arquipélago, com apenas cinco anos de existência, vê o mercado com a mesma abrangência. O editor Tito Montenegro considera que é um bom momento para investir na leitura em todo o território nacional, item considerado, na sua visão, cada dia menos supérfluo pela população. Com somente 18% do mercado concentrado no Rio Grande do Sul, a empresa espera um crescimento de 20% das vendas em 2011, sobretudo por meio da loja virtual. “A compra pela internet é a maneira de o mercado suprir uma carência, porque menos da metade dos municípios brasileiros tem livrarias e se tem são muito restritas”, afirma Montenegro.
Conforme a presidente do Clube dos Editores, Annete Baldi, o Estado tem tido facilidade em se firmar em todos os âmbitos. “Temos as pequenas editoras, que buscam mercado principalmente fora do eixo Rio-São Paulo, e a persistência das médias ao longo de anos”, expõe. Segundo ela, nos últimos cinco anos o setor editorial gaúcho tem se mostrado em visível crescimento, com o aumento no número de editoras, a exemplo de três novos sócios no Clube no último ano, e da fusão de outras, como o próprio Grupo A, que hoje abrange seis selos. Além disso, os novos editores têm se preocupado mais com a distribuição. A ânsia por ampliar o mercado, conforme ela, tem feito o cruzamento de fronteiras cada vez mais natural.
Publicações especializadas têm seu nicho de mercado garantido
Livros para públicos segmentados também encontram espaço entre a escolha dos leitores, sobretudo devido ao acesso às universidades. É o caso do Grupo A, que publica livros das áreas técnica, científica e profissional. Com um eixo de vendas em São Paulo e Rio de Janeiro e mais de 300 títulos lançados por ano, a empresa vem procurando diversificar os produtos para atender a uma nova leva de pessoas em busca de qualificação profissional. “Vemos um aumento em função dos investimentos em educação no Brasil como um todo”, analisa o diretor de Marketing, Michael Menta. Além de impressos, o grupo corre atrás de atender a demanda por novas tecnologias, com e-books e outros aplicativos.
A Zouk também comemora o crescimento de 15% ao ano graças a regiões como o Sudeste e o Nordeste. O Sul representa somente 22%. O editor da Zouk, Alexandre Dias Ramos, no entanto, teme que o público acadêmico não tenha crescido, e sim que tenha sido criado não mais que um “subpúblico”, que baseia o conhecimento na internet e em fotocópias. Por isso, a editora prefere continuar apostando e intensificando a segmentação, com livros acadêmicos nas áreas das artes e da sociologia, com a divulgação no boca a boca da publicação em pequenas quantidades por ano, entre 12 e 14 novos títulos.

Esse artigo foi originalmente publicado pelo blog Livros só mudam as pessoas.

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