16 de dez. de 2011

Um déficit literário na América Latina

Com a exceção do Brasil, editoras têm dificuldades em persuadir a crescente classe média a ler mais livros



Originalmente publicado em The Economist


Analfabetismo e pobreza já negaram o prazer da leitura a muitos latino-americanos. Esse não deveria mais ser o caso: Um quarto dos mexicanos nascidos antes de 1950 são oficialmente classificados como analfabetos, mas apenas 2% daqueles com menos de 30 anos. E menos de um terço dos latino-americanos hoje vivem abaixo da linha de pobreza, em comparação com a metade em 1990.

O mercado de jornais já está em crescimento. A circulação paga de jornais na América Latina aumentou em 5% (21% no Brasil e 16% no México) entre 2005 e 2009, de acordo com Larry Kilman da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias. Em relação a livros, o quadro geral é mais incerto. Editoras têm lançado mais títulos novos do que nunca. As vendas no Brasil, que é o maior mercado, estão subindo. Em 5 de dezembro a Pearson do Reino Unido (dona de 50% do The Economist) anunciou a compra por sua subsidiária Penguin de 45% da Companhia das Letras.

Entre os falantes de espanhol, as coisas não andam tão bem. No México e na Argentina, o segundo e terceiro maiores mercados da América Latina, as vendas de livros estão caindo. Graças à saga “Crepúsculo” e uma série de auto-ajuda, o Grupo Santillana da Espanha, a maior editora da região, relata que suas vendas direcionadas a adolescentes têm se mantido. Mas a associação de editoras do México diz que o total de vendas no ano passado foi de 139 milhões de cópias, 12% menos do que em 2005. Nos quatro anos até 2009 as vendas de romances caíram em 39% (para 8 milhões), e de livros infantis em 42%, para 13 milhões.

A estagnação tem raízes mais profundas. Estatísticas mais divulgadas elogiam as habilidades de leitura dos latino-americanos. Testes internacionais mostram que quase metade dos alunos de escolas secundárias na região não atingem o “nível mínimo aceitável” de compreensão de textos. Uma resposta é tornar os livros mais amplamente disponíveis.

Tradicionalmente, livros são vendidos como artigos de luxo na América Latina. A Espanha tem uma livraria para cada 10.000 pessoas. Em comparação, a Argentina tem uma para cada 20.000, o Brasil uma para cada 50.000 e o México uma para cada 70.000.

A tecnologia tem se mostrado lenta em interromper esse negócio de volumes baixos e margens altas. A venda de livros na internet tem sido dificultada por níveis relativamente baixos de penetração da banda larga e serviços postais precários. Amazon (e seu e-reader Kindle) só abriu uma loja na Espanha este ano; existem planos de entrar no Chile, Argentina e Brasil. Cerca de 4.000 livros em formato e-book já estão disponíveis em português no Brasil. Hora dos editores em países de língua espanhola começarem a acordar.

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